O cotidiano e o ponto final

Cinco da manhã. O fim da noite da mula.
Abrem-se seus olhos. Nenhuma sorte de qualquer sorte.
O ar gelado esquenta. A umidade dificulta a cura.
O Sangue. O sujo. A corpulenta presença da morte.

A escuridão se vai. O céu pende em lágrimas.
As gotas frias caem. Seus olhos às tomam como exemplo.
Panelas. Torneiras. Portas. A quebra do silêncio.
No sonho a mula era livre. Mas...

Lá vinham as moscas. Lá vinha o senhor.
Trazendo os sacos. Batatas. Batatas. Batatas. Batatas.
O peso do horror. Chibata. Chibata. Chibata. Chibata.
O dia. Ardor. Calor. Dor.

Os cascos por fim sangram. A pele caída dobra.
A mula se mostra verídica. Seu senhor a amarra na porta.
Mescla-se ao leito. Ao resto de grama. À água do esgoto. À sobra.
Por fim volta a sonhar liberta. Com sua imagem caída morta.

cjcl

1 respostas a “O cotidiano e o ponto final”

  1. # Blogger Quelqu'un qui ressent

    Você continua com algum outro blog mais atualizado? Gostei muito deste. Uma pena que só tem dois posts.  

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